março 29, 2015

Causos de assombração


"Lhe digo Zica, exésti história tão verdadera, mar tão verdadera que até parece qui foi inventada.
Sabe que ocê tem razão homi... Certa vez, tava eu com meu segundo marido, Antenor, pai dos meu oito fiinho do meio, lá pros lado da Vila Euclides, era um dia moiado, como era di costumi por aqui, naquele tempo a garoa era constante e a serração descia cedo. Quando deu final da tarde e já íamo recoiê as coisa pra imbora vimo um pequeno funeral em direção ao cemitério. Duas muié na frente e quatro homi carregando o caixão. Fiquemo oiando pra modi vê se era alguém conhecido, mas não reconhecemo ninguém. Peguemo nossas coisa e fumo pra casa. Lá chegano fui logo preguntando pra minha mãe, que nessa época já era viúva de meu pai e morava com a gente, quem tinha morrido, ela falou que ninguém, e se ela falou era verdade verdadera, pois ela sempre escutava o radim di pia que noticiava os falecimento das pessoa que moravam na vila. Mas como não?! Tinha visto um funeral! Minha mãe dissera que divia sê alguém que morreu sem um enterro e aí a alma vorta e fica vagando, só sussega quando tem um enterro descenti.
Credo em cruz, Zica! Pois te digo, Zuza, é verdade mesm. Naqueles tempo São Bernardo era tomada por assombração a noite. Crem Deus Pai, Zica! Num gosto de fantasma não. Lhe digo Zuza, não foi uma nem duas veiz que a noite recebemo visita de espríto vagabundo, foi pra mais de monti. Eu já tava casada com meu tercero marido, Antoninor, vinte ano mais novo que eu, pai dos meus seis úrtimo fio... Ocê hem Zica, casô com os três fii de Dona Cotinha, ocê num era fácir não, hem fia? Quantos fii ocê teve no final dos três casório? vinte e seis. Tenho curpa de tê muita energia? Hihihi. Agora ocê, né homi... Num casô nem deixô uns rebento por aí. Muié eu sei que ocê teve de monti, me lembro bem da Zeferina... Num me fale daquela uma, Zica. A Zuza não careci de ficá cabisbaixo prucausa dos chifre que ela te botô... Oh Zica, continue contano o causo de assombração que é mió. Bão, na casa de madera, que moremo lá na estrada dos Alvarenga, quase toda noite aparecia uma visita indesejada. Premero a gente escutava assim: “posso jogá?” E a gente respondia: “pode.” É lá vinha um pé. “Posso jogá?” “Pode.” E lá vinha o outro pé. “Posso jogá?” “Pode.” E lá vinha a perna esquerda. “Posso jogá?” “Pode.” E lá vinha a perna direita. E assim ia a noite toda, até que o corpo tava montado e a alma penada saia andando porta à fora. Credo em cruz Zica, nunca tinha escuitado história como essa. É verdade mesm, Zuza. No dia seguinte a gente acendia vela praquela alma no pé do cruzero da igreja. Pra modi ela não vortá mais. E não vortava. Naquela época por aqui, muitas pessoa murria de morte murrida nesses campo à fora. Eu mesma já achei muito cadáver quando labrava os mato. Tinha muito bicho grande por essas banda, homi, já lhe disse isso. As pessoa saia pra í ali e num vortava mais. As veiz o corpo era achado, otras não.
Que histórias Zica! É Zuza, são história a muito esquecidas... Dium tempo que não exésti mais."

Esses dois causos quem nos contou foi Dona Maria Zanatta, 86 anos. Nasceu em São Bernardo e daqui nunca saiu, atualmente mora próximo ao hospital Anchieta, região central da cidade. Foi essa bela senhora, descendente de italianos, que mantém um sotaque carregado, mistura do português com o italiano, que nos contou como era a vida nos “rebalde” da Villa, os bichos que aqui habitavam e a história do seu Martim, benzedor famoso que morava no bairro Assunção, que com sua reza poderosa salvava as pessoas de picada de cobra. Contou-nos também histórias de assombração, a do funeral fantasma e dos espíritos que jogavam partes do corpo.

março 03, 2015

Causo da Cobra que mama


Dona Cotinha, Mineira, reside em São Bernardo a mais de 40 anos no bairro Parque São Bernardo. Foi ela que nos contou a história da “cobra que mama”. Até hoje ela faz o terço no dia de Santo Antônio, tradição que começou com sua sogra assim que a cobra foi morta e seu filho salvo. Dona Cotinha é também conhecida como a mãe do Ditinho da Congada.

Abaixo segue o trecho que fará parte do livro SERTÃO BRASIL, CAUSOS, PROSAS E POESIAS DE SÃO BERNARDO, contemplado pelo VAISBC-2013.

"...É Zuza, Zumira não é facir não. Nem sabia dessa história... Semana passada eu tava com ela, como ti falei, lá pras banda da antiga Ponte Alta, sudoeste das Minas. E o que quiocê foi fazê pra lá? Fui ajudá a coitadinha, ela teve nenê e eu fui lá prestá meus serviço. Mas eu nem te conto o que aconteceu, Zuza. Conte logo Zica, conte logo. Cheguei lá antes do nenê nascê, dias antes. Fui eu mesma que peguei o menino.  Que meninão, dava gosto de ver! Roliço, cor de café cuado, pesava quase quatro quilos. Um MENINÃO. Mas o menino era do sacristão? Hihihihi, não Zuza, é do João Janga, o vendedô de bilete di loteria. O que tem pobrema nas pena? Esse mesmo, Zuza. Mas deixe te contá homi, foi que os dia foi passando, passando e o menino ao invéis de ingordá ele tava era esmagrecendo, esmagrecendo. Ninguém tava entendendo nada, já que a Zulmira tinha leite que até parecia uma vaca leiteira. Eu cá fui disconfiandu. Tinha me dado nas idéia o que pudiria ser. Pruque ocê sabe, né Zuza? Quiquano a muié tem nenê ela ficá quarenta dias de resguardo, deitada na cama só dando de mamá pro menino e tomando canja de galinha, que é pra dá sustança e bastante leite. Não pode sair do quarto pra nada, nem o marido dromi na cama com ela, por isso fui pra lá: pra cozinhá, lavá, passá e cuidá dos outros fiim dela. Quando o menino já tava pele e osso, foi que dei o bote e descobri o acontecido. Era meio da tarde, naquela hora em que as vaca se deita no campo e ruminando vê o tempo queimado se arrastá. As criança tava na escola. Tava só eu e a Zumira com o nenê, que ainda não tinha nome. Ela, drento do quarto com o menino, drumino ou dando mamá, de certo. Cresci meuzovido pra cima da porta e vi que não tinha baruio nium. Divagarim abri e fui entrando... E vi, vi mesmo, se não tivesse já visto antes, tinha duvidado dos meus próprio zóio. Vi uma cobra grande, mas dessas grande mesmo, mamando nas teta da Zumira e o nenê mamando o rabo da dita. Não tive dúvida, corri na cozinha, amornei uma água e com ela umideci um pedacinho de pano. Tirei o menino devagarim, e o pano eu enrolei no rabo da cobra, de modo que ela continuava achando que a boca do menino tava lá inda. Peguei a faca e fac, fac, fac, com três cortes certeiros matei a cobra. Zumira que drumia, acordô assustada, tadinha, era só pena. Mas Zica, como a cobra podia mamá nela? E cobra mama? Mama, Zuza, mama sim. O primeiro leite da mãe é muito nutritivo e as danada sabe disso, sente o cheiro de longe, vem se esgueirando, entra pela porta sem ninguém vê e se esconde debaixo da cama; quando a mãe vai dá de mamá, ela devagarim, sobe na cama, enfeitiça a mãe, que dromi, dá o rabo pro nenê e mama todo o leite, por isso o menino não engordava, era isso Zuza, era isso. Com o susto o leite da Zumira secô e tivemo que criá o menino na taipa do fogão à lenha. O menino ficô tão magrim, enrugado que parecia um véim, logo o povo começo a chamá ele de véio da tia Zumira. Dispois minha subrinha começo a discascá intera, quiném cobra. ARRE, Zica! Isso tudo aconteceu pros meado de maio e junho. Dia 13 de junho a Zumira foi fazê um terço pra Santo Antônio, pra modi o menino miorá. Proque ocê sabe, né Zuza, que, Santo Antônio não é só Santo casamenteiro não, ele é o santo das enfermidades tumém. Foi batata! O menino começô a engordá, engordá que só. Não tivemo dúvida, pusemo o nome dele de Antônio e Zumira estipulô que todo dia de Santo Antônio ela vai rezá um terço pro santo agradecendo a graça recebida.
Isso aí é trem do Canhoto, Zica! Dele, o Dito, Sete Pele, Arrenegado, o Côxo, só pode sê. Olhe Zuza, pode até sê, mas não sei não. Dizem que a cobra que mama tá enfeitiçada, mas isso eu não posso afirmá. Só posso dizê que cobra mama e mama mesmo, pois já vi mais de duas mamando. Isso tudo que contei é verdade verdadera. Os dotô da cidade diz que cobra não mama, mas digo e afirmo que mama sim, pois já vi com esses zói que vão virá estrela poesia.

Que mané estrela poesia, o quê, sô?"

dezembro 02, 2014

Ser tão Ser



Dona Palmirinha,  um par de olhos muito ativo e alegre, uma boca sempre em sorrisos,  orelhas penduradas em brincos, mãos firmes e um corpinho encurvado que guarda ainda a altivez dos 91 anos bem vividos. Assim que chegamos em sua simples casa, no Ruge Ramos, ela já nos esperava toda arrumada, blusa de renda branca em baixo de um vestidinho (acima do joelho) de oncinha, um broche camafeu e chapéu combinando com o vestido.  Logo que começamos a prosear ela nos foi contando do tempo em que viveu no circo, depois de ter tido 8 ou 14 filhos no primeiro casamento e ficado viúva ela vai embora com a trupe, que seu filho mais velho, Pedro, montou. Era  circo teatro com  acrobacia, malabarismo, mágica,  palhaçaria e teatro. Os dramas, como se referia às sketes, eram escritos por ela, assim como toda a confecção do figurino da trupe. Modelava,costurava e bordava com lantejoulas, rendas e fitas. Comecei a entender seu traje de recepção, que logo descobri ser recorrente no dia a dia, sem direito a repetição. Seu segundo marido,  com quem teve mais de 10 filhos, era 20 anos mais novo que ela. Ela com 37, ele com 17. Conheceram-se no circo, ela na linha de frente, ele na retaguarda. Permaneceram juntos até ele vir a falecer de diabetes aos 53 anos.

Perguntei a sua filha, Linda, quanto filhos Dona Palmirinha havia tido de fato, mas nem a filha soube me precisar, 24, 26, talvez 12 ou 16. A verdade é que não se sabe, muitos ficaram pelos caminhos tortuosos da vida mambembe. Uma nuvem mítica envolve Dona Palmirinha, esse incontido saber nos permite criar uma vida de aventuras, travessuras e boas artes, quase um Pedro Malasartes versão feminina. Vemos Palmira ainda jovem, com 40 e poucos anos, subindo no coqueiro para pegar coquinho; andando na corda bomba com sapatilha preta, vestido de lantejoulas verdes de babados coloridos e sombrinha amarelo brilhante; viajamos com ela nessa vida de aventuras, que é viver de circo. 

O que chama atenção nessa senhora encurvada de 91 anos é o verdadeiro espírito jovem, sedento em aprender. Depois dos 60 formou-se em artes plásticas, letras, fez pós graduação e vários outros cursos ligados a artes. Depois dos 70 aprendeu a dirigir tirou carteira de motorista e com seu fusquinha caiu no buraco que havia em sua casa, seus filhos, então, proibiram-na de dirigir, muito irritada nos conta isso, pois gostaria de ter continuado a pilotar seu fuscão velho. Depois dos 80 volta para o banco escolar, faz a faculdade da terceira idade e ganha por três anos consecutivos o título de mis terceira idade de São Bernardo. Participa anualmente da tradicional festa junina na Metodista (ou será UNIBAN?) e a cada ano desfila um traje novo, para 2015 está planejando ir de bolinhas coloridas e muito brilho.

Sem dúvida, o que ficará para mim guardado deste delicioso encontro não será seu olhar vivo nem  tão pouco sua sede em aprender, mas a coragem de ser quem somos. Dona Palmirinha é o que ela é, por isso se faz autêntica, viva e presente, sem medo de ser feliz nos ensina a receita para a longevidade: 
Ser tão Ser. 

março 28, 2014

Conversa de Contador e Sinhá...

Uma prosa de beira chão; papo de cerca Lourenço, de subir no pau da goiabeira... Sem pensa, sem issos... Só desimportâncias e ignorãças entre Meste Zuza e Dona Zica, sá sinhá. Ê sinhá.

Faz chão que não piso nesse sertão, me desculpe os passante e os ficante. Tive longe, muitas légua, pra lá do Nanuque, Embornal, depois mesmo de Bahia. Terra de gente sã, do Sanguranguran. Esse causo vos contei? Sei não, meu patrão. Sei não, minha sinhá. Pois intão, de volta eu tô. Me disculpa... Tanta demora assim não há de acontecer. Não de novo, aqui não. Desavença. Desavenceança. Dá não. Ah, pois!

Oiquí. Vejisso. Ouçó! Prosa de Mestre Sêo Zuza mais Sinhá Dona Zica...



dezembro 15, 2012

Entre poesia e sinhás velhas

    Na quinta-feira, 13 de dezembro, o serTÃOBrasil arranchou lá em bandas de SESC Itaquera. Sob o telhado rude de um quadrado quiosque, fez-se a cozinha deSinhá, Dona Zica. Lá tinha até, olhem só vocês, um pequeno e belo fogão à lenha, paredes em estampas de cor coloridas, coloridinhas: fruta cor, cor em flor, amarelinhas, musgo verdes, abricós lilases de tons variados. Pôs-se então estendido tapete, bordado de bovinas fazendas e chão sem fim em curvas serras de urucum e jatobá. Fez-se em bandas de lá, o serTÃOBrasil de Bordadeira, velha sinhá e encardido vaqueiro.
    No meio de lá das prosas e cantorias de Mestre Zuza; no meio de lá das broas de milho, cafezim e polvilho assado de Sinhá Dona Zica, levanta miudinha uma voz,. Voz miúda, de propriedade de miúdo corpo, encurvado um tiquim só, enrugado um tantim assim... Mas de olhos vivos e alegre estampar. Linda! Linda Caetana. Surgiu foi assim, "nuderrepente", poesia falada, declamada, aclamada em estouro de palmas... poesia.
    Poético momento Roseano e de Barros Manoel, nos brindou essa senhora que agora, em corpo de sua poesia, faz parte de nosso serTÃO. Assim... ói só pr'cê vê:


POESIA DA VOVÓ

VOVÓ TAMBÉM É VELHA / FRANZIDINHA COMO O QUE
PASSA O DIA LÁ NA REDE / ENTRETIDA NO CROCHÊ
ÀS VEZES FICA ZANGADA / COM O BARULHO QUE FAÇO
PEGA NO CHINELO / EU RI E ELA RI
E LOGO VEM UM ABRAÇO

UM DIA VIROU A CASA / PARA SEU ÓCULOS ACHAR
REMEXEU CANTO POR CANTO / QUERIA ME CULPAR
BEM QUE EU SABIA DE TUDO / MAS TUDO ISSO ERA UMA FESTA
POIS VOVÓ TRAZIA O ÓCULOS / PRESO NO ALTO DA TESTA

"Ah... essa poesia quem me contava era pai. Ele sentava com a gente na sala, em hora de dormir, e contava... Contava causos, poesias, histórias. Essa era a que eu mais gostava." - Linda Caetano, uma bela senhorinha que encontramos em nossas poeiras estradas lá de SESC Itaquera.


dezembro 10, 2012

Lá pras Bandas de Itaquera!

   Pois é, povo. Neste dezembro tem cantadô, sinhá, bordadeira e café fresco lá no SESC Itaquera. Mestre Zuza, viajante vaqueiro de poeiras estradas vai arranchar por lá, junto de Dona Zica - sinhá quitandeira e benzedeira  e uma tal Bordadeira de Histórias, que tece seus personagens de campos sem fim, bovinas fazendas e prosas causos desse sertão imenso de nome Brasil. Vai lá tomar um café, comer uns biscoitos de polvilho e ouvir as prosas e cantos desse povo todo.
   Serão duas apresentações, uma no dia 13/12, quinta-feira, às 11h da manhã e outra no sábado, 15/12, às 15h. Até lá!

foto: Ivan Taraskevicius

outubro 26, 2012

O serTÃO na telinha...

O dia 24 de outubro foi um tanto diferente pra esse povo cá do serTÃO. Teve contação de causo, uma roda de prosa com crianças de São Bernardo do Campo, lá na Biblioteca Guimarães Rosa, anexa ao Centro Cultural Elis Regina. Bom, até aí nada de estranhar. O que é crível de diferente mesmo, cedo chegado nessas terras de serTÃOBrasil e nunca tinha aparecido de estancar em nossa memória da gente foi que esse Mestre Zuza mesmo, a tal Sinhá Dona Zica com seus pan'de prato e ainda a moça Bordadeira dubastidô seu lá dela, foram cair de aparecer na tela e transformados foram em binários códigos. Pois sim! Bem aconteceu, lhes digo. Num certo Programa de Iriarte, na tela da ABCD, certo dizendo TV ABCD, foi que poeiras estradas subiram, a tigre, pintada onça, alto miô, cantoria se aportô e d'escancho se deu dessas personas de tão vasto sertão fossem pra lá, do lado de lá mesm' de onde vemos... Trem bão, sô. Olhe só como se deu, tá aí embaixo, embaixim, nessa tela de digitais caminhos que te levam até lá...

serTÃOBrasil na TV ABCD

outubro 15, 2012

Um causo de Patativa do Assaré

Num pedacinho do serTÃOBrasil tem também Patativa do Assaré. Sua poesia "A Verdade e a Mentira" aparece num relance desse espetáculo feito de café, biscoito de polvilho, cantiga de violão e muita boa prosa. Para você se divertir um "catiquim", sêo doutô navegador dessas paisagens de cá daqui desse blog sertão.
Nesse pedaço pedacim do sertão, Mestre Zuza fala sobre "A Verdade e a Mentira", do mestre Patativa... Salve, mestre!


A Verdade e a Mentira from Leo Andrade on Vimeo.


setembro 19, 2012

Mestra Contadora

Dona Aristélia, lá do São Bernardo. Mestra contadora de causos e cantigas. Dona baiana pra mais dos seus setenta. Ainda nem desapareceu de contar seus causos. Nonada... tá mais é de aparecer demais os seus lá dela: sanguranguran, causo de Lampião, das coisas todas que viveu nessa vida todinha lá dela.
Aqui dentro desse sertão tem um pouco dessa prosa com Dona Aristélia, cheia de sorrisos. Tá lá, tudinho começo começado, lá onde tem "Os Mestre".

foto: Cris Abreu

agosto 21, 2012

Em terra de Araçá e Maritaca

Nas poeiras estradas do São Paulo... e pra dizer a verdade não tão poeiras, mas sim um petróleo e liso asfalto de estrada, chegou o serTÃOBrasil em Birigui e Araçatuba. Entre araçá, muito calor, revoadas de maritacas e causos curiosos, a Bordadeira de Mestre Zuza e Dona Zica, contaram modas e cantaram prosas pro povo alegre dessa terra.



Um dos causos aconteceu antes mesmo de estender o tapete, antes da proseação e de passado o café. Ali na rua da praça um sabiá não saiu dos pés de Sinhá Zica, dona Elza. Parou, cantou, arrodeou, chamou pra passear e revoou revoado lá pras bandas dos fios de poste. De lá ficou olhando pra sinhá, como que dizendo que passarim por aqui não desapareceu de cantar não. Tava lá... mansinho, mansim, de peito laranja, laranjim. Ficou lá em riba o sabiá. Muntarto pra se tocar, per'demais pra se bem ouvir.



Depois foi pra lá, lá pra beirada da janela ouvir os velhos contadores de suas histórias. Seu dotô sabia que sabiá gosta de ouvir o povo cantar? Fica lá ele, mansamente ave de ouvido atento, ouvindo. E lá fomos nós, do serTÃO, cantar pro sabiá e praquele povo de lá, de lá do Birigui e Araçatuba. Contamos prosas, cantamos histórias e falamos de umas cantigas boas de se cantar e se ouvir, boamente como fazem os bois.
Mestre Zuza falou da vez que enfrentou três onças com um tiro só na agulha da espingarda. Era daquelas onça-tigre braba, lá do Mato Grosso; falou também da vez que pegou um tal peixão de mais de 7 metros lá pras bandas do São Francisco, alto mesmo lá no Sergipe e de uma jornada entre Nanuque e Estremoz, pras bandas do Norte das Gerais, quando levava, ele mais João Preto, carrero de carro de bois, sino pra ser benzido pelo Capelão. Teve lobisomem, assombração, poesia de Dona Zica, cafezim, e bolinho de chuva. Ah... teve também o "biscoitinho 5 pratos", receita de sinhá, lá de Conceição do Mato Dentro, teve Tochio, homem de olho puxado e mente esperta e todas as "gente" que nos ouviram.
Teve serTÃOBrasil, teve causos, bordados e poesia. No final, sá Bordadeira teceu um Luão de todo tamanho, dessas de alumiá passeio de pulga pelo chão, chão das Gerais, de Sêo Rosa; do pantanal, de Manoel; do cerrado de Coralina e outros mestres contadores.
Vai ficar também muita sôdade dessa terra boa, onde as maritacas se arreúnem detardezinha todas elas, verde, verdinhas, lá na praça, pra ouvir o sino da igreja soar.

agosto 13, 2012

Causos em Birigui

Ó só... dexeu'te conta uma coisa. Aportando boiamente em Birigui, o serTÃOBrasil de Mestre Zuza, Dona e Sinhá Bordadeira vai esticá o tapete e fervê ferventá água pra passar um cafezim em duas prosas boas de se ouviu, pros causos e pras modas não desaparecê de se contá em nossa memória. Acontece na próxima sexta-feira. Uma prosa em Birigui e outra em Araçatuba, ali pertim mes... 

serTÃOBrasil em Birigui e Araçatuba pelo SESC

julho 09, 2012

Agenda de Agosto

Olá meu povo! Dá só uma "oiadinha" nuqui nóis tem procês pru mês de agosto, já que em Julho, nós tudo vai queimá chão nesse sertão e descansá um pouco. Oia bem direitim viu e vê se arranja um jeito de dá um jeito de apreciá o serTÃOBrasil em Agosto. Inté mais...

AGOSTO

maio 28, 2012

serTÃO em São Bernardo... paisagens

Alguns pedaços de poesias e prosas da cozinha de Dona Zica, bordada pelas mãos da moça bordadeira no palco do Teatro Elis Regina em São Bernardo do Campo.


A bordadeira tece e borda histórias, poeiras, veredas e sertões...



Dona Zica, quitandeira, benzedeira, de pano de prato nos ombros e ervas na cumbuca, passa café pro povo todo ouvir as "prosa" e cantigas que vêm chegando lá de longe...


Vêm chegando lá de longe: na voz e no violão de um mestre contador, velho jagunço, vaqueiro de prosas, pescador de poesia... Vem pelo cheiro e pelo gosto do café para o povo visitar... Vem Mestre Zuza.


Tem o "Causo do Sanguranguran", de Dona Aristélia, aqui mesmo de São Bernardo; tem o Cálix Bento, cantiga das festas de Reis, tem poesia, café fresco e cantoria...



Tem também o povo todo cantando e contando suas prosas e histórias com "as gente" do sertão.


Pra se fazer um tratado sobre passarinho, é preciso por primeiro que haja um rio...
Com árvores  e plameiras nas margens.
Pra se fazer uma boa prosa é preciso haja "as gente" e "as vontade" das gente ser pedra, rio e passarinho.

maio 20, 2012

Nas poeiras de São Bernardo

meu boi chegou, lá na beira no cerrado
meu boi chegou, lá na beira do cerrado
Abre a porteira Maria 
pra ver o meu boi encantado

   Ao som dessa cantiga encerramos uma bela passagem pelos palcos de São Bernardo do Campo. Foram três apresentações: uma em abril, no Teatro Lauro Gomes e duas neste mês de maio, no Elis Regina. Por acaso, a última foi agora há pouco. Foram apresentações que pudemos perceber como o serTÃOBrasil se comporta sobre o palco, já que o ideal é ser feito em espaços mais aconchegantes. Não tivemos dúvida: levamos o povo pro palco e lá montamos, sobre a saia da bordadeira, a cozinha de Dona Zica.
   
   Entre cantigas, causos, lobisomens, pescaria no São Francisco e uns contos sobre "O Dito", "O Sete Pele", "Gabiru Pestilento", "O Canhoto", cantamos e proseamos com o povo do São Bernardo, rimos e choramos as poeiras estradas do sertão das Gerais, do Goiás e mais pra lá. Essa semana postaremos uns vídeos e fotos esses encontros cá nessa terra agaroada. A todos que assistiram: obrigado por compartilhar sua presença conosco. Inté mias ver!

março 30, 2012

Ensaio de Calix Bento

Dona Zica, a Bordadeira e Mester Zuza estavam ensaiando o CALIX BENTO, aquela cantiga popular de Festa de Reis, gravada maravilhosamente bem por Milton Nascimento. O ensaio foi apenas da primeira parte de cada estrofe... Êta cantoria animada!

novembro 14, 2011

Causo do Sanguranguran

Um dia , em São Bernardo, em uma das apresentações do serTÃO Brasil, conhecemos Dona Aristélia. Uma bahiana boa de prosa e cheia de histórias pra contar. Pois certo! Voltamos a nos encontrar uns dias depois. Então, essa senhora nascida numa rocinha lá perto de Feira de Santana, nos contou um pouco de suas lembranças histórias. Dito! Com prosa e cantoria, nos falou de uma história que seu pai lhe contava, com os meninos todos "arreunidos" em volta dele, à noite, só "alumiado" pelo fogo de lampião: o "Causo do Sanguranguran", que agora faz parte do espetáculo. Mostramos aqui um pouquinho desse causo maravilhoso de Dona Aristélia. Gradecido, sinhá.


Causo do Sanguranguran from Leo Andrade on Vimeo.


novembro 10, 2011

Duas onças, uma bala...

"Escuita só" esse causo de mestre, foi de quando ele acertô duas onça, co'tiro só.
(Lembra que todo causo, todim mesmo, que nóis publicá aqui, vai tá sempre na parte de Causos, aqui desse quintal) Duas onças, uma bala by Leo Andrade

novembro 07, 2011

Prosas do serTÃO Brasil

Acabamos de lançar no catarse.me um projeto para produção de um CD de causos contados pelo Mestre Zuza. Na nossa página de Projetos tem mais detalhes e também no link http://catarse.me/pt/projects/435-prosas-do-sertao-brasil


novembro 03, 2011

Vamo se apresentá!



Sertão Brasil: causos, bordados, poesia. Sertão Brasil, poeiras estradas onde velhos contadores de causo, quitandeiras, bordadeiras e bom ouvintes se encontram para tecer suas histórias, seus afetos, suas mentirinhas que de tão pequenininhas não fazem mal a ninguém. Sertão de Guimarães, de Manoel, de Coralina; sertão de Mestre Zuza, Dona Zica e bordadeira; sertão de quem quiser vir, ver e ouvir nossos causos e cantigas. SerTÃO...